Em 300 palavras


A crônica

Para dizer o que é crônica, começo dizendo o que ela não é. Não é uma notícia, nem uma reportagem, apesar de estar presente na imprensa e às vezes retratar acontecimentos diários e quase sempre ser escrita por jornalistas, mas também não é literatura, mesmo existindo livros de crônicas e ser escrita por muitos poetas e romancistas.
Você deve estar se perguntando: “Mas que raio, então, é uma crônica?” É um texto curto que geralmente é publicado por um jornal, escrita com uma linguagem simples, linguagem de dia-de-semana, – já diria o famigerado do Guimarães Rosa -, vira e mexe aparece com uma pergunta ou simulação de diálogo com o leitor. O cronista, o cara que escreve a crônica, se inspira em acontecimentos diários, presentes ou não na imprensa, mas ao fazer isso dá a ela um toque pessoal, apresenta um tema sob seu ângulo de visão singular, de uma forma leve, descontraída, por vezes até com uma pitadinha de fantasia, criticismo, ironia e por aí vai.
No Brasil, existem e já existiram ótimos cronistas, como por exemplo: Ferreira Gullar, Luís Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony, Mário Prata que escrevem hoje em dia em grandes jornais, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, Nelson Rodrigues, Raquel de Queiroz e outros tantos que já atravessaram o rio, - como o grande poeta Thiago de Mello se refere àqueles que já nos deixaram. A crônica, por seu caráter espontâneo e quase oral é um texto adorado pelos brasileiros.    
Enfim, a crônica é isso, fazer com que o leitor leia e se informe sobre algo, sem perceber, como o amigo leitor que chegou até esse último parágrafo fez, leu e se informou sobre esse gênero textual prazeroso de se ler e mais ainda, de escrever. 



Metáfora e Ironia
                                                            
Você é um anjo! Você é um tesouro! Não leitor não é um diálogo de um casal de namorados apaixonados. São exemplos de metáforas, tá lá no dicionário: Figura de linguagem que consiste em estabelecer uma analogia de significados entre duas palavras ou expressões, empregando uma pela outra. (Aulete Digital).
            Melhor do que saber o que é, é saber para que usamos, e olha que usamos muito..., utilizamos a metáfora para indicar uma comparação de alguma coisa, por exemplo: Você é um anjo! Quem diz isso, compara as qualidades do anjo: bondade, inocência, beleza, divinidade e etc a alguém. Os poetas usam em seus poemas a torto e direito para expressar o que querem dizer, dizendo outras coisas. Agora, quando dizemos: Você é um anjo! Com um tom de voz mais baixo ou mais pausada que o normal, querendo dizer o contrário disso, aí já é a ironia, outra figura de linguagem. Também a utilizamos muito no dia a dia, o pior é quase sempre ninguém entende.
            Conheci um rapaz que não entedia metáfora e, muito menos, ironia. Era um inferno conversar com ele. Brincadeira então? E piadas? Já imaginou contar piadas a alguém que não consegue entender que o que é dito não é o que está sendo dito? Olha que o rapaz se dizia muito culto, era estudante de uma dessas universidades badaladas e tudo. Certa vez, falando sobre futebol, disse eu: É, o Corinthians dançou! Como assim dançou? Dançou o quê? Ele respondeu.
            Tanto a metáfora como a ironia fazem da língua portuguesa, seja ela a culta ou a coloquial, uma das mais lindas e inventivas do mundo. Você não precisa saber o que é metáfora ou ironia para saber como alguém dança sem dançar e que esse rapaz devia ser muuuuito inteligente ...
            

Você viu ou colocou poesia aqui?

            Um grande amigo meu veio com uma provocação: O poeta vê poesia nas coisas ou põe poesia nas coisas que vê? Sei lá, respondi. Não sabia mesmo, mas resolvi refletir um pouco.
            É impossível tentar definir poesia em apenas trezentas palavras, mas vamos lá. Primeiramente devemos separar poesia de poema. Poesia é o conteúdo, esse conteúdo pode conduzir a transcendência, beleza ou emoção, e poema é apenas o texto escrito em versos. Assim, o poema pode ter ou não poesia. Já a poesia pode estar presente em um poema, um filme, até mesmo em um entardecer, enfim, em tudo que, de certa forma, percebemos pelo sentimento, ou pela emoção.
            Acho que o poeta enxerga poesia onde outras pessoas não veem, para ele é ver a poesia já existente, para os outros, quem sabe, seja colocar poesia onde não existia. Conheço alguns poetas que jamais escreveram um poema sequer, mas em conversas sempre aparecem com uma sacada legal, uma visão diferente sobre alguma coisa. Ver poesia, talvez, seja estar perceptível as belezas do mundo, das coisas, dos homens e das ideias. Há uma definição que gosto muito, cujo autor não me recordo, diz assim: Poesia é o olhar incomum sobre os homens comuns.
            Um dia escutei os versos da canção Relicário de Nando Reis: (...) Sobe a lua porque longe vai?/Corre o dia tão vertical/ O horizonte anuncia com o seu vitral/ Que eu trocaria a eternidade por esta noite (...) Achei maravilhoso, já imaginou trocar a eternidade por uma noite apenas? E pior, saber que será só uma noite? Eufórico cantei para um amigo, ele disse: Nada a ver, né? Se foi o Nando Reis que colocou nesses versos, ou se só eu consegui ver, não sei, mas que há poesia ali,há!


Meu amigo Peixe Grande

            Contar histórias é uma dádiva, mas nem todos sabem fazer isso, outros, por sua vez, fazem muito bem. Há aqueles, porém, que não só contam, mas também vivem suas histórias. A ortografia contribuiu com eles quando não mais diferenciou História – a ciência histórica, a disciplina que aprendemos na escola -, e Estória – narração fictícia, conto de origem oral e popular, fábula.
            Tenho um amigo que é um fabulador nato, para uns um mentiroso de mão cheia, para outros um contador de histórias tão magnífico, que até ele chega a acreditar nelas. Seu nome? Não posso dizer, até mesmo porque se dissesse ele diria que é mentira. Chamamos ele de Edward Bloom, protagonista de Big Fish, quem assistiu a esse fabuloso filme saberá o que quero dizer, quem não assistiu, depois de ler esta crônica, vale a pena correr até uma locadora, uma das que ainda resistem firmemente, e dar uma conferida.
            - (...) se ele contasse, ele apenas diria os fatos, não colocaria nenhum sabor... Essa fala de Ed Bloom resume bem o modo de enxergar a vida dele e desse meu amigo, - que talvez sejam o mesmo. Existem pessoas que gostam de retratar a vida por fatos reais, comprováveis, outros são grandes demais para a vidinha que levam, então preferem se referir a ela de forma impressionante. Não irreal, mas melhorada. Eles não mentem, não são caluniadores baratos, são poetas, criadores de novas realidades, dá mesma forma que os grandes escritores são. O objetivo é tornar suas histórias mais bonitas e atraentes para quem lê ou ouve.
            Meu amigo vai a uma viagem inóspita, difícil, sei que lá ele viverá fatos terríveis, mas quando ele voltar, é certo que voltará bem, essas histórias se tornarão fantásticas, surreais, inacreditáveis  e principalmente maravilhosas de se ouvir.


Arte e Entretenimento

            Existe uma linha que separa arte e entretenimento?  Não quero entrar em discussões filosóficas, mesmo porque até hoje não se tem uma definição de arte, então pegarei esta: É a representação do ser humano por meio da música, escultura, pintura, dança, literatura, cinema ou teatro para expressar suas emoções, seus sentimentos, sua história, sua cultura, com uma preocupação estética (beleza, harmonia e equilíbrio). O entretenimento é, segundo o Aulete digital, a ação ou o resultado de distrair-se.
Com isso, podemos dizer que arte é a produção de algo sob uma estética por um meio, e entretenimento se dá ao ver, assistir ou interagir com o objeto artístico. Certo? Errado. Não é bem assim, não. Para se ter arte é preciso que haja uma utilidade, - apesar de muitos afirmarem que arte não serve para nada -, utilidade que é a reflexão, a sensibilização, a transformação do espectador. Ficar olhando o teto ou o chão é distrair-se, pode se considerar entretenimento.
            O grande problema de hoje em dia é a tentativa da mídia em querer misturar e vender entretenimento por arte. Uma peça de teatro, cuja única preocupação, é vender bilhetes e que para isso o texto apareça recheado de piadinhas estereotipadas, não é arte, ou um livro, cujo enredo sirva apenas para comover os leitores com amores baratos e piegas, também não é arte, assim como não é arte o filme recheado de tiros, batidas de carros, explosões, e por aí vai...
            Cheguei a uma conclusão, juntamente com meus alunos, aquilo que é feito para te ajudar a esquecer, por um curto período que seja, de um dia de trabalho cansativo ou algo assim é entretenimento, aquilo que é feito para te fazer pensar, refletir, avaliar, reavaliar a sociedade, o mundo e até você mesmo é arte.
           

 Por quê poesia não vende?

            Estive conversando com uns amigos, conversamos muito, e não conseguimos chegar a uma conclusão/solução, ou melhor, nem chegamos, depois de desfazer a pergunta, ficamos estagnados no início: Poesia não vende, ponto.
            Talvez seria porque poesia não é necessária, mas consumimos muitas coisas que também não são. Compramos badulaques, trecos, até camisas, calças,  sapatos que nunca usamos. Vi em um programa de televisão uma figura que tinha mais de cento e cinquenta pares de sapatos, se ela usasse todo dia um, coisa que duvido, ficaria cinco meses desfilando de sapato diferente, será que isso é necessário? Assisti o programa e nem sabia porque, logo não era necessário, mas eu estava lá, em frente a tv, consumindo essa porcaria! E o pior que tenho prova em minha, mal dita, memória!
            E por que diabos que essas pessoas não consomem poesia? Os grandes, Drummnond, Pessoa, Quintana, Bandeira, até eles, sofrem com as vendas pífias, agora os pequenos, os poetas contemporâneos, aqueles que encontramos no bar ou na rua, coitados, nem se fala.   
            Creio que a sociedade moderna tornou o homem tão egoísta, que ele não está disposto para ter uma nova perspectiva, uma nova visão sobre um tema e até mesmo uma dor de cotovelo que não seja a dele mesmo. Muita informação esse homem recebe, mas a poesia não é apenas informação, ela dá recados ao coração, à alma, a sensibilidade desse homem, que não está acostumado, ou até, nem saiba que existe nele um coração, uma alma e a sensibilidade, e pior ainda! Talvez nem exista mesmo, vai ver o homem moderno já venha sem esses itens de fábrica.
            Como já disse o grande poeta Roberto Piva: A poesia entendida como "instrumento de Libertação Psicológica e Total, como a mais fascinante Orgia ao alcance do Homem"


O inútil útil

Há algumas coisas interessantes nesse nosso mundão, uma delas é o que caracterizamos útil ou inútil, prefiro a definição da segunda: (1  Que não é útil, que não tem préstimo (despesa inútil); DESNECESSÁRIO. 2  Infrutífero, estéril, vão (esforço inútil). 3  Que nada faz ou produz (diz-se de pessoa); IMPRESTÁVEL.) do Aulete digital.
Quando criança nunca fui um aluno brilhante, sempre fui, assim, seis ou sete, a matemática, química ou física, que me diziam ser útil, para mim, era inútil, mas sempre fui de ler bastante, principalmente, livros infanto-juvenis (aquela série Vaga-lume, até a minha época li todos, menos os que eram do Xisto que eu odiava) e romances policiais: Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle (o autor de Sherlock Holmes), quadrinhos do Batman, Super-Homem, Homem Aranha e revistas sobre Ufos, tudo isso seria considerado inútil sob um manto de cultura clássica, se posso assim dizer.
Depois que cresci adquiri novos hábitos, como ler alta literatura e escutar boa música, à medida que minha biblioteca e minha discoteca, na época eram os Lp´s, iam crescendo, minha mãe falava que eu só gastava dinheiro com bobeiras, ou seja, coisas inúteis. Percebo que minhas raízes culturais foram fincadas ali, quando preciso de uma referência geralmente é de algo que tive contato nessa fase, lógico que isso não é regra, mas tenho certeza que se não tivesse lido o que li, escutado o que escutei não teria as ideias, as opiniões que tenho e, principalmente, não seria o que sou hoje.
            Talvez ainda não saiba diferenciar o útil do inútil, mas sei o me que foi e é útil, foi e é considerado inútil para muitas pessoas e que hoje não troco o meu inútil e o meu útil por nada, ainda mais sabendo que o meu inútil é útil.


O poder da música

 Com a recente morte do Astro Pop Michael Jackson, jornais e sites noticiam que as vendas de seus albúns aumentaram e muito. Seria isso apenas oportunismo? Acho que não, pois o poder da música em nossas vidas é muito grande, tão grande que agora a ciência tentar entender e explicar esse fenômeno.
Segundo os cientistas, o cérebro usa a música como um marcador da memória emocional, ou seja quando ouvimos uma determinada canção lembramos-nos de pessoas com quem convivemos ou de situações de que passamos. Um bom exemplo disso, foi quando assistindo ao jogo do Brasil vi a notícia da morte de Michael Jackson e na hora pensei em alguns parentes, que não vejo há muito tempo, em Minas Gerais, é que, quando eu era pequeno, cerca de oito ou nove anos, ia passar as férias em Pouso Alegre e lá minha prima que é um pouco mais velha que eu tinha um compacto de Michael e toda vez ouvíamos juntos. Meu cérebro associou Michael Jackson a Pouso Alegre, interessante né? Mas tudo isso é inconsciente.
A música também é usada para criar laços sociais, nossos ancestrais usavam cantavam em rituais de celebração, tristeza e guerra, até hoje é assim, usamos o poder do ritmo musical para formatar a sincronização, em estádios de futebol, bailes funk, carnaval, trio elétrico ou outros locais de aglomeração de gente. Ao cantar é criado uma unidade entre elas, é como se todas fossem uma coisa só, estivessem sob do mesmo sentimento.
Muitos compositores renomados usaram sua música para impelir ou engajar pessoas a uma causa, caso do próprio Michael ao encabeçar o projeto USA for Africa com a música We are the world.
Por enquanto o mais importante a saber que a memória musical é a nossa fonte da juventude.


As faces do nosso INHO

            Algumas coisas na língua portuguesa são realmente interessantes, e uma delas é o diminutivo. Usamos esse recurso para indicar que algo (um substantivo) é menor que o normal, porém com o sufixo a palavra fica maior para indicar o menor, por exemplo: para a palavra MENINO ao colocar o sufixo INHO que indicará um menino menor temos uma palavra maior MENINHO.
            Existem outros sufixos, não são muito comuns é verdade, mas existem, veja só como ficam: Casa, Muro, Pedra, Rio, Cão, Corpo, Diabo, Flauta e Frango: Casebre, Mureta, Pedregulho, Riacho, Canito, Corpúsculo, Diabrete, Flautim e Frangote. Lembrando que alguns sufixos chegam a mudar a palavra original, você sabia que o diminutivo de Cão pode ser também Cachorro? Isso é uma questiúncula (para quem não sabe diminutivo de questão.
            Às vezes, o diminutivo nos serve para indicar afeto também. Quem já não teve o prazer de ser convidado para conhecer o Irmãozinho de uma namorada, chegando lá o cara tem quase dois metros de altura e dois de largura? Ou como todos já alguma vez ouviram de bocas baianas o famoso Paiiiiinho ou a santa Mãeiiiinha. Também utilizamos o diminutivo para indicar ironia, como por exemplo, em um estádio de futebol que gritamos para o time adversário: Timinho, Timinho! Porém se você, leitor, um dia me disser: Leio suas croniquinhas, não saberei se o diminutivo foi empregado para indicar a ironia (você não gosta de minhas crônicas) ou o afeto (você gosta delas), aí então terei um probleminha.
            Mas o que mais me fascina é quando usamos o diminutivo para indicar o aumentativo, é isso mesmo! Então me responda o que é mais quente: Um café quente ou um café quentinho? Ou melhor ainda, o que é mais gelado: Uma cerveja gelada ou uma cerveja geladinha?


Brasileiros e brasileiras

O José Sarney, presidente do Senado, ex- da República e membro da Academia Brasileira de Letras (?), está sendo acusado de inúmeros crimes. Segundo o jornal da MTV é culpado até pela morte de Michael Jackson para que todos parem de falar dele.
Brincadeiras (ou não) à parte, o último crime de Sarney é ter arrumado uma vaguinha no Senado para o namorado da neta, cujo pai também está envolvido em escândalos. A imprensa chegou até a divulgar os telefonemas da negociata.
Isso deu mais pano para a manga do senador, mas encontro um problema, não do Sarney, mas da população, quem nunca arrumou emprego para um parente? Quem nunca foi empregado por um parente?  Isso na língua do povo é chamado de QI (Quem Indica). Não se engane leitor não faço defesa do bigodudo não, acho que ele e toda sua corja de parentes que mandam e desmandam em dois estados da federação devem ser punidos e banidos de uma vez por todas da política brasileira.
O que me irrita é que há coisas que todos sabem que existem, mas quando caem na mídia é uma grande novidade, algo parecido aconteceu quando o Ronaldo (na época jogava ainda no Cruzeiro) afirmou ter comprado sua carteira de motorista e todos ficaram surpresos com isso.
Novamente digo que não o defendo, mas se é errado empregar um futuro genro no senado, isso é chamado de Nepotismo, também deve ser errado para as outras pessoas, mas para eles é o famoso jeitinho brasileiro.
Acho eu que para que o nosso país seja realmente justo, deve-se começar de baixo para cima, ou seja, um povo honesto pode exigir vereadores, deputados, governadores, senadores e presidentes honestos e uma imprensa que não se escandalize com casos conhecidos por todos brasileiros e brasileiras.


A força vital é a vontade de viver

Há alguns anos assisti uma entrevista de Oscar Niemeyer para o Roberto D´Avila e quando ele disse que precisava encerrá-la, porque teria aula de filosofia, fiquei surpreso. Na ocasião Oscar estava, – se me lembro bem –, com 97 anos. O cara era o maior arquiteto brasileiro, um dos maiores e mais influentes do mundo e ainda precisava estudar?
Aquilo me desconcertou, estava eu com vinte poucos anos e sempre gostei dos estudos, mas também curtia os prazeres do ócio. Após a entrevista fiquei pensando o que impelia Niemeyer a continuar estudando aos 97 anos? Suas obras eram conhecidas e reconhecidas no mundo todo, já tinha alcançado o ápice em sua carreira, já tinha feito fortuna. Convenhamos uma pessoa aos 97 anos depois de atingir todas as expectativas de sua vida mereceria apenas descansar.
Com o passar dos anos descobri o motivo de Niemeyer estar com, hoje, 102 anos e ainda na ativa, é a vontade de viver, e ele mostra essa vontade, vivendo, ou seja, continua fazendo as coisas que lhe dão prazer.
Outro que me deixou perplexo e, confesso, emocionado foi o nosso vice-presidente José Alencar, de 77 anos e que luta contra um câncer há 12. Alencar já passou por 14 cirurgias, só este mês por 2, mas mesmo assim se mostra perseverante e confiante na vitória contra a doença.
Talvez o que motiva Oscar Niemeyer motiva José Alencar, é a força vital.Viver entrando e saindo de hospitais, fazendo tratamentos há 12 anos é necessário muita vontade. A vontade de viver de cada um de nós é do tamanho de nossos sonhos e de nossa disposição para trabalhar, só vivemos se temos um motivo, um porquê e diferente do que pregam as novelas não é o amor é o trabalho.   


 O clima louco de São Paulo

Meu pai sempre disse que em São Paulo em um mesmo dia temos as quatro estações. Não é para tanto, mas em alguns dias devemos estar preparados para tudo, por exemplo: você deve sair de casa com uma blusa ou uma jaqueta, porém com uma camiseta leve por baixo, porque ao meio-dia vai estar um calor insuportável, lá para o final da tarde chove, por isso um guarda-chuva é importantíssimo e no início da noite esfria novamente.
Quando trabalhei em uma empresa eu ia quase todos os dias a um departamento público na Marginal Tietê, no meio da manhã, entrava no carro e deixava o terno no banco de trás, dez minutos depois, ao encontrar o trânsito e o sol, a gravata ia para o banco ao lado, arregaçava as calças até os joelhos, um pouco mais de sol e trânsito lá se iam os sapatos, depois as meias, a camisa que já estava aberta e suada nas costas ia para o banco traseiro, chegando ao local era só se vestir novamente e correr para uma sala com ar condicionado.
Às vezes o que mais me chama a atenção é a maneira bem peculiar de se vestir de alguns. Além de ver botas e chinelos caminhando juntas, pessoas de sobretudo lado a lado com outras de bermuda e camiseta, tudo no mesmo ambiente. Sem contar as combinações mais surpreendentes: camiseta sem mangas com cachecol ou touca de lã, bermuda e jaqueta e o novo acessório: óculos escuros, mesmo na chuva ou à noite.
O paulistano é tão caótico em sua vestimenta quanto o clima de sua cidade, já deve estar acostumado passar frio e calor em um só dia, por isso mesmo não deve se importar de estar ou não com a roupa adequada. 


 A certeza da inexistência da inspiração

Alguns dizem que o que move o artista é a inspiração, porém diferente de muitos, sei que ela não existe. Se existisse seria fácil demais criar algo, bastava esperar sua graça para que um artefato, uma pintura, uma escultura, ou até mesmo uma crônica surjisse. Caso contrário não seria culpa sua, a inspiração é que lhe faltou, mas não é bem assim. Segundo uma frase do iluminado inventor Thomas Edison: “A genialidade é 1% inspiração e 99% de transpiração".
  Comecei a escrever meu texto sobre a descriminalização da maconha na Argentina, fiz umas 180 palavras, estava horrível, parecia redação de aluno primário, então a apaguei. Depois iniciei outra sobre algo que adoro e recorro sempre quando não tenho o que escrever: As curiosidades de nossa língua. Mas não saí do primeiro parágrafo, essa não apaguei, também não corrigi os erros, sem o termor do produto inacabado, aqui está:
 Já reparou, caro leitor, que nossa língua não é lógica? Existem algumas coisas interessantes que não me tiram o sono, porém me colocam em profunda reflexão. Ao analisarmos algumas expressões cotidianas, exemplo: Sabor de pizza. Como alguma coisa pode ter sabor de pizza se a pizza é um alimento de diversos sabores? Alguns poderiam dizer que é o sabor da pizza original, ou seja, molho de tomates, queijo e orégano. No entanto se ligarmos para uma pizzaria e pedirmos uma pizza, a original, logo escutaremos um: de quê?
 Assunto não me falta, poderia escrever sobre a Gripe Suína, a guerra das TVs, o Senado, ou muitas outras coisas, acontece que quero escrever algo não genial, mas diferente das informações das quais somos massacrados diariamente pelos meios de comunicação de massa, contudo pela inexistência da inspiração acabei transpirando para escrever sobre minha incapacidade de criar uma crônica.     



O significado de uma palavra pode não ser o seu significado

            Recentemente alguém me contou a história que tinha ido ao Museu do Imigrante e, não sei o porquê, precisava consultar algo na Internet, ali mesmo, quando viu uma placa que dizia: Sala de Navegação. Não teve dúvidas, entrou, mas qual não foi a sua surpresa? A sala simulava a navegação dos navios em que os imigrantes vinham para o Brasil, longe de ser o local para navegar nos mares da rede virtual.
            O significado de uma palavra pode mudar em uma determinada região ou no decorrer do tempo, um exemplo é a palavra Interessante, antes era usada exclusivamente para dizer que algo interessava por ser curioso, importante, atraente, porém, hoje, quando escutamos que algo é interessante pode ser justamente o oposto, que é razoável, apenas mediano, sem graça ou pior ainda, maçante, entediante.
            O grande escritor João Guimarães Rosa, que tem um dos melhores nomes de nossa literatura, escreveu em um dos seus contos, o problema de um médico para explicar a um cangaceiro o sentido da palavra: Famigerado, dita a ele por um homem do governo. O narrador vê que o destino do pobre servidor está em suas mãos e cabe a ele escolher bem as palavras para dizer ao jagunço a real acepção da palavra, de modo que não coloque em risco a sua vida e a do maledicente.
            Quase todas as palavras têm inúmeros significados, às vezes deixamos alguns de lado ou apenas nos lembramos dos mais utilizados no nosso cotidiano. Foi o caso da navegadora do museu, que esqueceu que navegar se referia ao embarcar rumo a algum lugar em um navio, contudo ao confundir o valor semântico das palavras, em linguagem de dia de semana, viajou na maionese, que é um termo muito interessante.

O preconceito poético

         Sou poeta e grande leitor de poesia, gosto, também, de ler crítica sobre isso, mas tenho percebido, já há algum tempo, que alguns críticos estão confundindo gosto pessoal com qualidade poética, o que denuncia que a poesia ainda vive em grupos de amigos que ficam se bolinando mutuamente e pior ainda, na minha opinião, é que estão pregando a forma única, ou seja, querem que os poemas atuais sejam cópias de uns poucos já conceituados.
         O linguista e professor Marcos Bagno, que é conhecido pelos seus livros que denunciam o preconceito social por meio da linguagem, não faz ideia de que esse preconceito está agora na poesia. Em algumas leituras percebo que aqueles que fazem poemas com uma linguagem mais simples e menos apurada são tachados de negligentes em relação à arte poética, o que achariam, esses críticos, dos poemas de Oswald de Andrade ou Mário Quintana se publicassem hoje?
         Muitos críticos pregam o hermetismo poético, poema bom é poema ininteligível para a maioria. Eu não posso concordar, por minha militância na democratização da poesia. Democratização não é a facilitação. Não. É o convite através de uma linguagem mais simples, longe da simplória, àqueles que não têm o costume da leitura de poemas, ou usando um termo de um amigo meu: Pregar aos não convertidos. O meu sonho é que a poesia ganhe as ruas, de modo mais literal possível.
         Não faço apologia a poema de má qualidade, descuidado, mas prego a diversidade de linguagem, já imaginaram as pessoas nos escritórios, nos salões de cabeleireiros, ou em qualquer outra parte conversando sobre poesia em vez de conversar sobre a novela das oito? Sonho? Se depender dos críticos sim, porque o preconceito social jamais permitirá que a poesia fosse algo popular e não de uma elite.


A unanimidade comercial

            Existem algumas normas, que não estão escritas em lugar algum. Fui a uma pizzaria nesse fim de semana e a televisão estava ligada na rede globo, (escrevo assim mesmo no minúsculo!) ninguém a assistia, estava para as paredes, porém na rede globo. Por quê?  Porque existe a regra que “todos” assistem a essa emissora, mesmo quem a detesta, como eu.
            Você já ouviu alguém falando que se não for coca-cola não é refrigerante? Garanto que sim. Baseado nesta “norma” a coca-cola fez uma série de anúncios contra os refrigerantes mais baratos de pequenas empresas, por ela, chamado de refrigereco.
            Esses dois exemplos são apenas ilustrativos, não vou ficar fazendo propaganda para essas nem outras empresas, pois o espaço desta crônica não é para isso, o leitor mais atento perceberá que de propaganda aqui não tem nada, mas há um ditado que diz: Fale mal, mas fale de mim. Para isso é utilizado o axioma: Se todos falam de um determinado produto, logo ele se torna conhecido e se tornando conhecido, é bom. Com isso cria-se o padrão, e tudo que não foge: Não é bom, claro!
            De onde tiramos isso? Dos Slogans criados nas agências de propagandas, que pregam conceitos exclusivistas e, por vezes preconceituosos. E infestam toda mídia. O apelo à unanimidade, que referenda a qualidade (segundo esses slogans), não se restringe a apenas produtos, mas a tudo que é comerciável, como programas de televisão, (Você não assiste a novela? Não acredito!) cantores e bandas, (Você não gosta do Calipso?) inclusive as pessoas, (aqueles populares dos filmes americanos e nossos Big Brothers).
            É sempre bom lembrar de que a pluralidade é muito bem vinda em todos os lugares e situações, até na área comercial e, também, da famosa frase de Nelson Rodrigues: Toda unanimidade é burra! 


A humildade na marca do pênalti.

         É preciso ter humildade! Seja humilde! Essas são algumas das inúmeras frases que ouvimos quando é necessário que alguém precisa abaixar um pouco a bola. Dentre as várias definições de humildade temos, segundo o Houaiss eletrônico, virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade.
            Sempre achei que esse papo um verdadeiro clichê, coisa de incompetente servil ou pseudomodesto. Penso que para sermos verdadeiramente humildes precisamos ter plena consciência de nossas qualidades. Não se deve ser humilde em um campo que se está entre os melhores. Isso não quer dizer que sempre precisamos aprender um pouco mais e nunca seremos perfeitos em nada. Basta, porém, sermos críticos, com boa visão de mundo, ter o verdadeiro autoconhecimento e saber de nossas reais capacidades.
            A seleção brasileira, ou pelo menos de Mano Menezes, nos deu um bom exemplo de falta de autoconhecimento, falta de visão crítica e, principalmente, ignorância de suas verdadeiras capacidades. Neste caso ficou evidente a falta de humildade por parte de alguns jogadores que pecaram por puro preciosismo antes de algumas finalizações em gol. Jogadores que ainda são promessas, apesar da mídia já tratá-los como novos Pelés, mas Pelé não era dado a preciosismos desnecessários, fazia o simples quando era possível e o impossível quando era difícil.
            Humilde é aquele faz o simples, que nem sempre é o mais fácil, mas sempre é o mais correto a se fazer. Humilde é aquele que treina e se aperfeiçoa, mesmo já sabendo do que deve ser feito. Humilde é aquele que se preocupa mais com o seu ofício e não com seu penteado.
            Essa falta de humildade no futebol já nos prejudicou inúmeras vezes e mesmo assim ainda não aprendemos. Talvez se nas penalidades nossos jogadores fossem mais humildes e abaixasse a bola, ela fosse rasteira e entraria.
  
        














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